Buriti - Mauritia flexuosa L. f.: Uma Palmeira Multifuncional

1. Classificação Científica

  • Reino: Plantae
  • Filo: Angiosperms
  • Classe: Monocotyledons
  • Ordem: Arecales
  • Família: Arecaceae
  • Gênero: Mauritia
  • Espécie: Mauritia flexuosa

2. Introdução:

O buriti (Mauritia flexuosa L.f.), conhecida também por miriti (PA), moriti, muriti, boriti, coqueiro-buriti, carandá-guaçu, carandaí-guaçu, palmeira-dos-brejos, é uma palmeira majestosa e icônica, nativa da América do Sul, com destaque para a região amazônica. Conhecida por seus frutos nutritivos, óleo rico e importância ecológica, o buriti desempenha um papel crucial em diversos ecossistemas e na vida de comunidades locais. Este artigo explora em detalhes os aspectos botânicos, químicos, econômicos, culturais e ecológicos desta espécie fascinante.

3. Origem e Distribuição:

Regiões geográficas: O buriti é amplamente distribuído na América do Sul, abrangendo países como Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Guiana, Suriname e Bolívia. No Brasil, é encontrado principalmente na Amazônia, Cerrado, Pantanal e até no Nordeste. É a palmeira mais amplamente distribuída no país, formando populações naturais homogêneas tão amplas que chega a ser detectada por imagens de satélite. São famosos os "buritizais" das ilhas do estuário do Baixo Tocantins no Pará, ou as veredas ao longo de córregos no oeste da Bahia (Grande Sertão Veredas).

Tipos de habitat: O buriti prospera em áreas úmidas e alagadas, como margens de rios, igarapés, veredas e brejos. É característico de ambientes de transição entre ecossistemas terrestres e aquáticos.

4. Características Botânicas:

Hábito de Crescimento: Palmeira robusta e elegante de 20-35 m de altura, com tronco (estipe) solitário e ereto, sem ramificação, liso e com anéis uniformemente espaçados, de 30-60 cm de diâmetro. No ápice do estipe encontra-se uma coroa de 20 folhas de até 4 m de comprimento. É uma planta dióica ou polígamo dióica, ou seja, existem indivíduos com flores masculinas e indivíduos com flores femininas e hermafroditas.

Folhas: Suas folhas são grandes, palmadas (em forma de leque), com até 3,5 metros de comprimento, dispostas em coroa no topo do tronco.

Flores: O buriti é uma espécie dióica, ou seja, possui plantas masculinas e femininas separadas. As inflorescências são grandes e ramificadas, com flores pequenas e amareladas.

Frutos: O fruto é uma drupa globoso-alongada de 4-7 cm de comprimento, constituída de epicarpo (casca mais externa) formado de escamas romboides de cor castanho-avermelhada; mesocarpo (parte comestível) representado por uma massa espessa de cor alaranjada; endocarpo esponjoso que envolve a semente muito dura. Uma única planta pode conter até 7 cachos de frutos, com uma média anual de produção de 5000 frutos. Cada fruto contém apenas uma semente.

Sementes: As sementes são ovoides, com cerca de 2,4 cm de comprimento. Amplamente usadas na produção de óleo.

Raízes: Possui sistema radicular fasciculado, adaptado a solos úmidos. Auxiliam na estabilização do solo.

5. Composição Química:

Principais compostos químicos: Os frutos do buriti são ricos em carotenoides (licopeno e principalmente betacaroteno, precursor da vitamina A), ácidos graxos (ômega-9), tocoferóis (vitamina E), vitamina C e minerais como ferro, cálcio e fósforo.

Propriedades medicinais: O óleo de buriti possui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, cicatrizantes e fotoprotetoras, sendo utilizado em cosméticos e na medicina tradicional. Não há relatos de toxicidade em níveis de consumo alimentar.

6. Variedades:

Não há relatos consistentes na literatura científica de variedades ou subespécies distintas de Mauritia flexuosa. A variação observada geralmente está relacionada a fatores ambientais.

7. Importância Ambiental:

Papel no ecossistema: O buriti desempenha um papel fundamental na manutenção da biodiversidade em ecossistemas úmidos. Suas folhas servem de abrigo para diversas espécies de animais, e seus frutos são fonte de alimento para a fauna.

Interações com outras espécies: As flores são polinizadas por insetos, principalmente besouros. Os frutos são consumidos por diversos animais, como peixes, aves e mamíferos, que atuam como dispersores de sementes.

8. Importância Econômica:

Usos comerciais: Os frutos são consumidos in natura e utilizados na produção de sucos, doces, sorvetes e licores. O óleo é utilizado na indústria cosmética e alimentícia. As folhas são utilizadas na cobertura de casas e artesanato. A seiva do tronco do buriti é tão rica em açúcar que é possível extrair da mesma a sacarose cristalizada como da cana-se-açúcar. Para a sua obtenção, faz-se um furo no tronco e recolhe-se a seiva num recipiente, produzindo em média 8-10 litros por árvore. O produto cristalizado tem quase 93% de sacarose. Parece que apenas as plantas machos (que não dão frutos) possuem seiva açucarada. As folhas novas do buritizeiro dão cordas resistentes. O pecíolo da folha fornece material leve e mole usado na fabricação de rolhas e no artesanato regional, como brinquedos, pequenas caixas, etc.

Valor econômico: O extrativismo e a comercialização de produtos derivados do buriti geram renda para diversas comunidades locais. O "doce do buriti" geralmente é acondicionado em caixas feitas com o pecíolo da folha. Os frutos in natura podem ser facilmente encontrados nas feiras das cidades da região Norte (Piauí, Maranhão e Pará) no período de dezembro a julho.

9. Importância Cultural:

A madeira do buritizeiro é moderadamente pesada e dura, porém de baixa durabilidade natural. Mesmo assim é muito utilizada regionalmente em construções rurais e construção de trapiches em beira de rios. A árvore é uma das palmeiras mais ornamentais e elegantes de nossa flora, contudo, totalmente ignorada por nossos paisagistas. O único que ousou usa-la pela primeira fez foi o famoso paisagista Roberto Burle Marx nos jardins do Palácio Itamarati em Brasília. 

Uso em tradições e práticas culturais: O buriti possui forte significado cultural para diversas comunidades indígenas e tradicionais, sendo utilizado em rituais, festas e na medicina tradicional.

Significado simbólico: O buriti é frequentemente associado à fartura, fertilidade e proteção.

A corrida de tora: É uma espécie de desporto indígena que consiste no ato realizado entre dois grupos que competem no carregamento revezado de duas grandes e pesadas toras, geralmente de buriti, por um determinado percurso. Nos Jogos dos Povos Indígenas, realizado no Brasil desde 1996, oficializou-se o desporto como o carregamento de uma tora de buriti de 120 quilos, para os homens, e troncos de 100 quilos para as mulheres.

A importância do buriti transcende a sua utilidade econômica, tornando-se uma das plantas mais estimadas pelas populações de muitas regiões do país, sentimento este traduzido pelo uso de seu nome para designar várias cidades no interior do país: Buritizal (SP), Buriti (MA), Buritis (MG), Buriti Alegre (GO), Buriti Bravo (MA), Buritama (SP), Buriti dos Lopes (PI), Buritirama (BA), Buritizeiro (MG),

10. Uso Culinário:

O buriti é fonte alimentar importante para os indígenas amazônicos. Inúmeros produtos úteis do buritizeiro são aproveitados pelas populações ribeirinhas de sua região de ocorrência, tais como: bebida natural ou fermentada, óleo e doces dos frutos, fécula e um líquido potável e açucar do estipe, etc.

Partes da planta utilizadas: 

Da polpa ainda se obtém óleo comestível, empregado principalmente na fritura de peixes. Dos caroços ou sementes pode-se obter um carburante líquido obtido através de fermentação e destilação. Da medula do tronco obtém-se uma fécula amilácea semelhante ao "sagu" da Índia, empregada no preparo de mingaus.

Receitas tradicionais: Da polpa ou mesocarpo prepara-se o "vinho de buriti" mediante o prévio amolecimento dos frutos em água morna; esta prática é necessária para completar o amadurecimento dos frutos que ao caírem ainda estão um tanto duros. Também é chamado em algumas regiões "vinho-de-buriti" o líquido adocicado e fermentado extraído pela incisão de sua inflorescência antes de desabrocharem as flores. Com a polpa também prepara-se o tradicional "doce de buriti", principal produto derivado desta palmeira e já comercializado em vários estados. É presença constante em feiras da região norte, onde pode ser encontrado em pequenos pacotes como em latas de 20 kg. Os índios Huitotos do Peru e outras tribos amazônicas preparam dos frutos um suco e uma espécie de "chicha" (cozimento fermentado). 

11. Uso Medicinal:

Propriedades terapêuticas: Antioxidante, anti-inflamatório, cicatrizante, fotoprotetor. Promove a saúde ocular devido ao alto teor de vitamina A.

Aplicações: Utilizado na medicina tradicional para tratar queimaduras, inflamações e problemas de pele. Na medicina moderna, o óleo é incorporado em produtos cosméticos e dermatológicos.

Efeitos colaterais e precauções: Consumo excessivo pode causar distúrbios gastrointestinais. Óleo pode ser alergênico em pessoas sensíveis.



12. Produtos à Base de Buriti:


Produtos comerciais: Óleo de buriti (cápsulas, cremes, óleos corporais), sucos, doces, sorvetes, licores.

Processos de fabricação: O óleo é extraído da polpa dos frutos por prensagem ou extração com solventes.

13. Cultivo:

Ocorre exclusivamente em áreas alagadas ou brejosas, como em beira de rios, igapós, lagos e igarapés, onde é geralmente encontrado em grandes concentrações na forma de populações homogêneas, formando os chamados "buritizais". Geralmente parte do tronco fica imerso na água por longos períodos, sem que isso lhe cause dano. Á água tem importante papel na disseminação de suas sementes. É até possível encontra-lo em solo seco, contudo, em alguma época este local foi muito úmido ou encharcado. Para cultiva-lo em terreno seco deve receber muita água na sua fase juvenil.

  • Clima e Temperatura: O buriti é uma planta tropical que se desenvolve melhor em regiões com clima quente e úmido. Ele é encontrado principalmente em áreas de várzea e brejos, onde há abundância de água. A temperatura ideal para o crescimento do buriti varia entre 25°C e 30°C.

  • Solo: O buriti prefere solos ácidos e bem drenados, ricos em matéria orgânica. Ele se adapta bem a solos alagados ou permanentemente úmidos, como margens de rios e áreas brejosas. É importante que o solo tenha boa capacidade de retenção de água.

  • Irrigação: Embora o buriti se desenvolva naturalmente em áreas alagadas, em cultivos comerciais é importante garantir uma irrigação adequada, especialmente em períodos de seca. A irrigação deve ser frequente para manter o solo sempre úmido.

  • Adubação: A adubação é essencial para o crescimento saudável do buriti. Recomenda-se o uso de adubos orgânicos, como esterco curtido e compostos orgânicos, para fornecer os nutrientes necessários. A aplicação de Bokashi, um adubo natural, também é benéfica.

  • Espaçamento: O espaçamento entre as plantas deve ser suficiente para permitir o desenvolvimento adequado das raízes e da copa. Recomenda-se um espaçamento de aproximadamente 5 metros entre cada planta.

  • Controle de Pragas: O buriti é relativamente resistente a pragas e doenças, mas é importante monitorar regularmente as plantas para identificar qualquer sinal de infestação. Métodos de controle biológico e cultural podem ser utilizados para manter as pragas sob controle.

  • Poda: A poda não é uma prática comum no cultivo do buriti, mas pode ser realizada para remover folhas secas ou danificadas, melhorando a circulação de ar e a saúde geral da planta.

  • Colheita: A colheita dos frutos do buriti geralmente ocorre entre dezembro e junho. Os frutos devem ser colhidos diretamente da árvore ou recolhidos do chão após a queda. É importante colher os frutos maduros para garantir a qualidade.

  • Rotação de Culturas: A rotação de culturas não é uma prática comum no cultivo do buriti, pois ele é uma planta perene. No entanto, a introdução de outras culturas em áreas adjacentes pode ajudar a melhorar a fertilidade do solo e a reduzir a incidência de pragas e doenças.

  • Condições Locais: O buriti se adapta bem a condições locais específicas, como proximidade de corpos d'água e áreas com alta umidade. É importante escolher locais que ofereçam essas condições para garantir o sucesso do cultivo.

  • Observação: para a produção de mudas, os frutos devem ser colhidos no chão após sua queda espontânea, o que ocorre a partir de janeiro, prolongando-se até julho. Em seguida os frutos devem ser deixados amontoados por alguns dias até o completo apodrecimento da polpa para facilitar a separação da semente (uma por fruto). 

Um kg de sementes contém aproximadamente 35 unidades, cuja viabilidade em armazenamento é muito curta. Devem ser postos para germinação logo que colhidos e limpos em canteiros ricos em matéria orgânica, ou diretamente em embalagens individuais contendo o mesmo tipo de substrato. Em ambos os casos cobrir as sementes com uma camada de 1 cm de substrato e irrigar duas vezes ao dia. A emergência ocorre em 3-5 meses e a taxa de germinação é apenas moderada. As mudas estão prontas para plantio no local definitivo em aproximadamente 18 meses.

14. Considerações Finais:

O buriti é uma palmeira de grande importância ecológica, econômica e cultural. A conservação de seus habitats naturais e o manejo sustentável de seus recursos são essenciais para garantir a continuidade dos serviços ecossistêmicos e os benefícios socioeconômicos proporcionados por esta espécie.

15. Fontes:

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Comentários

  1. Olá Queria muito a ajuda de você gostaria que se você nessas suas pesquisas pudesse coletar sementes eu faria a troca ou enviaria envelope com selo pra você enviar sementes pra mim pois sou da caatinga também só que em alagoas

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  2. Pregunta sobre los Buritzal a los investigadores Brasileños
    Estoy realizando una revision de la literatura en relacion al sistema ecologico denominado Morichales En Venezuela, Buritizal en Brasil, Aguajales en Peru, Moretales en Ecuador y Palma Reales en Bolivia. En la actulidad he leeido todo lo que se ha publicado en relacion a las veredas de Brasil, sin embargo me gustaria saber si en el bioma del cerrado brasileño existen tambien lo que denominan Buritizal. Por lo que he leido, estos al igual que las veredas es posible que existan en la region Central de Brasil aunque posiblemente en rios de tercer orden, conformando Palmares de pantano densos a ambos lado del rio en sus planos aluviales permanentemente saturados de humedad. Este sistema ecologico seria equivalente a lo que denomina Ferreira como “ Veredas do Cordão Linear – “Veredas que se desenvolvem às margens de curso d’água de médio porte, formando cordões lineares como vegetação ciliar. Sin embargo aunque existen extensos Buritizales en el Delta del Orinoco y en el del Amazonas, asi comoen la cuenca Amazonica Brasileña, no he podido conseguir referencias cientificas sobre este sistema particularmente de Brasil. Me da la impresion que aguas abajo de las veredas al entallarse el curso de agua, siempre y cuando el nivel freatico se mantenga alto, es posible encontrar en los rios de tercer orden un “Mauritia flexuosa palm swamp” o lo que denominan en Brasil como Buritizal. Sin embargo, el mantenimiento en el tiempo de esta comunidad, exige la conformacion de claros grandes por perturbaciones antropicas o naturales. Si esto no ocurre, el Buritizal comienza gradualmente ha ser remplazado por un bosque de pantano de Virola sebifera, Protium heptaphyllum, Richeria grandis y Calophylum brasilensis. Me gustaria que alguien me contestara, le escrito a tres investigdores de tres universidades en Brasil y aun no he recibido respuesta alguna
    Atentamente Dr. Valois Gonzalez (valois.gonzalez@gmail.com)


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  3. O buriti é uma espécie abundante no Cerrado e um indicativo infalível da existência de água na região. Como o Cerrado é rico em água, lá estão os buritis, emoldurando as veredas, riachos e cachoeiras, inseridos nos brejos e nascentes. A relação com a água não é à toa.
    Ao caírem nos riachos, os frutos de seus generosos cachos são transportados pela água, ajudando a dispersar a espécie em toda a região. Os frutos também servem de alimento para cutias, capivaras, antas e araras, que colaboram para disseminar as sementes. Na natureza, tudo funciona na base da cooperação mútua.
    Fonte:http://www.ispn.org.br

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