Classificação Botânica
Nome científico: Platonia insignis Mart.
Família: Clusiaceae
Origem e distribuição geográfica
O bacurizeiro é uma espécie frutífera e madeireira, com centro de origem na Amazônia Oriental Brasileira, mas precisamente no Estado do Pará. Ocorre espontaneamente, em todos os Estados da Região Norte do Brasil e no Mato Grosso, Maranhão e Piauí. Rompendo as fronteiras brasileiras, é encontrado nas Guianas, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. Assume importância econômica nos Estados do Pará, Maranhão, Tocantins e Piauí, onde concentram-se densas e diversificadas populações naturais, em áreas de vegetação secundária.
Descrição da planta
Árvore de porte elevado, com altura entre 15 m e 25 m , podendo atingir nos indivíduos mais desenvolvidos altura superior a 30 m e diâmetro na altura do peito em torno de 1,00m. O fuste é retilíneo e a copa ampla e aberta, em forma de cone invertido.
As folhas são simples, elípticas e com disposição oposta cruzada. Padrão de venação do tipo paxilato, ou seja, com nervuras secundárias copiosas, e próximas, terminando em uma nervura que acompanha toda a periferia da folha. Pecíolos curtos com comprimento variando entre 1cm e 2cm.
As flores são hermafrofitas, constituídas de cinco pétalas de cor rósea intensa, mais raramente de coloração creme quase branca ou, ainda, com todas as tonalidades entre o róseo e o creme. Os estames estão agrupados em cinco feixes, uniformemente distribuídos, coalescentes na base, cada feixe contendo em média 82. A desicência da antera é longitudinal, com abundância de grâos de pólen. O ovário é súpero, geralmente pentaloculado, contendo cada lóculo elevado número de óvulos, que apresentam placentação axial e estão dispostos em duas fileiras. O estigma é pentalobulado e, juntamente com estilete, apresentam cor verde-clara.
O fruto é do tipo bacáceo, uniloculado, com formato arredondado, ovalado, piriforme ou achatado, nesse último caso com cinco sulcos visíveis na parte externa. O epicarpo é delgado, com maior freqüência de cor amarela e mais raramente com coloração verde-amarelada, marrom-avermelhada ou mais raramente verde. O mesocarpo é espesso e de consistência coriácea, repleto de vasos lactíferos, exudando substância resinosa de cor amarela, quando cortado ou ferido. O conjunto formado pelo epicarpo e mesocarpo, popularmente denominado de casca, representa 70% do peso do fruto e apresenta espessura que varia entre 0,7 cm e 1,6 cm. A parte comestível é corresponde ao endocarpo, e representa 13% do peso do fruto. É de cor branca, com aroma forte e sabor adocicado e desprovido de vasos lactíferos.
As semente são volumosas, de coloração amarronzada e representam, aproximadamente, 17% do peso fruto. Tipos raros apresentam frutos desprovidos de sementes ou com número de sementes igual ou superior a seis.
O bacurizeiro na história
O primeiro relato conhecido sobre o bacuri está no livro História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão, escrito pelo frade francês Claude d’Abbeville (?-1632) e
publicado em 1614. Sua descrição da espécie, grafada como “pacuri”, é a seguinte: “O pacuri é uma árvore muito alta e grossa, suas folhas parecem-se com as da macieira e a flor é esbranquiçada. O fruto tem o tamanho de dois punhos, com uma casca de meia polegada muito boa de comer como doce, tal qual a pera. A polpa desse fruto é branca, parecida com a da maçã, de gosto suave; encontram-se dentro quatro nozes comestíveis”.
Outro religioso, o padre jesuíta João Daniel (1722-1776), que viveu na Amazônia entre 1741 e 1757, descreveu o bacuri. A partir de 1757 e até sua morte, o padre ficou preso em
Portugal – no período da caça aos jesuítas promovida por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês do Pombal (1699-1782) – e, na prisão, escreveu um enorme tratado sobre a região amazônica, onde fez detalhadas observações: “A fruta bacuri, posto que tenha seus senões, também merece sua menção, pelo seu excelente gosto. A sua árvore é famosa de grande, e também o fruto é de bom tamanho...
Tem a casca grossa, e para dar a casca, e se abrir a fruta, quer maço, ou requer se dar com ela em uma pedra, ou pau; ... porque tudo são caroços vestidos ou revestidos de uma felpa por modo de algodão muito alva... É esta uns gomos da mesma massa, que serve de divisão aos caroços. (...) Costumam pois os moradores, quebrada a fruta, separar com um garfo esses gomos intermédios para um prato, e se o querem cheio é necessário quebrar mais fruta; mas no seu superlativo gosto pagam muito bem o trabalho em as quebrar, e suprem a sua pouquidade: falo das doces, em que sempre há algum tal ou qual ácido; e tão tenros os gomos, que parecem nata, ou manteiga.” O Ensaio corográfico sobre a província do Pará, livro em que o militar e geógrafo português Antônio Ladislau Monteiro Baena (1782-1850) descrevia a geografia, os recursos naturais e a população paraenses, publicado em 1839, também destacou a importância do bacurizeiro, “árvore que dá fruta agridoce”.
Segundo Baena, a espécie “tem casca acitrinada e semelhante à do piquiá” e seu lenho “serve na construção náutica”. Um fato curioso sobre a fruta é relatado pelo escritor paraense Osvaldo Orico (1900-1981) em seu livro Cozinha amazônica: uma autobiografia do paladar, de 1972: o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), o barão do Rio Branco, famoso pela solução dos problemas de fronteira do Brasil com os países vizinhos, adotou o bacuri como sobremesa nos grandes banquetes oficiais do palácio do Itamarati, no Rio de Janeiro, em sua gestão (1902 a 1912) como ministro das Relações Exteriores. Sabe-se ainda que, em 1968, em visita ao Brasil, a rainha Elizabeth II, da Grã-Bretanha, ficou encantada com o sorvete de bacuri preparado por uma confeitaria do Rio de Janeiro, razão de diversas encomendas posteriores.
Receita
Ingredientes:
1 lata de leite condensado
1 lata de creme de leite
500 gr de polpa de bacuri
180 gr de biscoitos tipo champanhe
1 xícara (chá) de leite
Modo de Fazer:
Bata no liquidificador o leite condensado, o creme de leite e a polpa de bacuri por 5 minutos.
Em um refratário, arrume em camadas os biscoitos champanhe embebidos no leite e o creme de bacuri e leve à geladeira por cerca de 3 horas. Sirva em pequenas taças individuais.
Fontes
CAVALCANTE, P. B. Frutas comestíveis da Amazônia. Belém, CNPq/Museu Paraense Emílio Goeldi (Coleção Adolfo Ducke), 1996.
DANIEL, J. Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas. Rio de Janeiro, Contraponto, 2004.
LIMA, M. C. (org.). Bacuri: agrobiodiversidade. São Luís, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, 2007.
SOUTO, G. C.; GIBSON, C. P.; HOMMA, A. K. O.; CARVALHO, J. E. U. & MENEZES, A. J. E. A. (eds.). Manual de manejo de bacurizeiros. Belém, Emater-Pa, 2006.
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