Cabaça - Lagenária vulgaris
Quem já bebeu água de cabaça, sabe o gostinho peculiar que ela tem. Gostinho esse que me transporta a minha infância, quando nos meses de férias, passava dias na casa dos meus avos no sítio Cercado das Pedras. Como toda criança, cheia de curiosidade, acompanhava meu avo, Sr. Nascimento, à roça e observava que uma presença era constante - a cabaça, usada como cantil e que era guardada embaixo de um juazerio, repousando à sua sombra enquanto meu avô trabalhava e eu, claro, brincava. Logo tive a minha própria cabaça, que meu avô confeccionou pra mim. Era uma cabaça pequenina, mas que eu não trocava por nada. O sabor daquela água ainda reside em mim, como a forte saudade de meus avós.
É neste clima saudosista que eu vos apresento a CABAÇA:
Cabaça ou porongo é a designação comum dos frutos de plantas da família das cucurbitáceas, especialmente da Lagenária vulgaris. As plantas são chamadas de cabaceira, porongueiro, cabaceiro e, na Amazônia, de jamaru.
O fruto seco é amplamente utilizado em diversos países do mundo, de várias formas:
O fruto seco é amplamente utilizado em diversos países do mundo, de várias formas:
1. Vasilha para uso em refeições, como cuias ou copos;
2. Moringa para transporte de líquidos, normalmente, água para se beber durante uma viagem;
3. amplificador acústico em instrumentos musicais, como o chocalho, afochê, maraca, sequerê ou xequerê, abê e malimba;
4. Como decoração.
No que diz respeito ao berimbau brasileiro, a menção ao uso de cabaças da família das cucurbitáceas, como a Lagenaria vulgaris, é incorreta. A cabaça utilizada no berimbau é o fruto de uma espécie não aparentada, a árvore Crescentia cujete (bignoniáceas), também conhecida como calabaça, cuia e cueira, da qual nós falamos na postagem anterior.
Em
casas
ribeirinhas,
indígenas
e
quilombolas
do
Brasil,
os
frutos
dos
cabaceiros,
das
cuieiras
e
dos
porongos
costumam
ser
partidos
em
vários
formatos,
esvaziados
do
miolo,
polidos
e,
quem
sabe,
até
tingidos
e
decorados
com
incisões
de
exímia
precisão,
para
servir
como
baldes,
coiós,
bacias,
copos,
tigelas;
ou
como
cuias
de
tomar
água,
tacacá,
chibé
e
mingau,
no
Norte e Nordeste,
ou
chimarrão
e
tereré,
no
Sul
e
no
Centro-Oeste.
Desses
mesmos
frutos
que
são
transformados
em
objetos
para
comer
e
beber,
também
se
fazem
instrumentos
de
trabalho
de
pescadores,
seringueiros
e
produtores
de
farinha
de
mandioca,
que
partem
suas
bandas
de
cuia
para
levá-las
aos
rios,
às
florestas
e
casas
de
forno.
Consideradas por diversos grupos humanos como elementos dotados de poderes especiais, as cuias e cabaças estão presentes num vasto conjunto de práticas rituais e tradições religiosas, de matrizes indígenas e africanas em especial, amplamente difundidas no Brasil. Inteiras ou cortadas em partes, ocas, preenchidas ou envoltas em palhas e contas, lisas ou decoradas com incisões, todas têm seus donos na Terra e nos outros mundos, e constituem objetos prenhes de significados ritualísticos que só podem ser integralmente compartilhados por iniciados que conhecem “o fundo da cabaça”.
Taxonomia
A Lagenaria vulgaris é uma trepadeira herbácea. Não se sabe exatamente o origem desta espécie. Trabalhos arqueológicos identificaram artefatos da planta em diversas regiões do mundo, sem no entanto, conseguir identificar a origem. Provavelmente por ser uma fruta flutuante como o coco, cujo formato lacrado permitiu seu transporte através de rios e correntes oceânicas desde épocas remotas, permitindo que suas sementes intactas se difundissem por todo o globo.
A Lagenaria vulgaris é uma trepadeira herbácea. Não se sabe exatamente o origem desta espécie. Trabalhos arqueológicos identificaram artefatos da planta em diversas regiões do mundo, sem no entanto, conseguir identificar a origem. Provavelmente por ser uma fruta flutuante como o coco, cujo formato lacrado permitiu seu transporte através de rios e correntes oceânicas desde épocas remotas, permitindo que suas sementes intactas se difundissem por todo o globo.
Uso, prática e custo
Além da predominância da tradição na maior parte dos casos, é interessante observar que todos os usos relativos estão associados a culturas com baixa tecnologia, já que os objetos adaptados a partir da casca da planta já foram aperfeiçoados há muito tempo, em quase todos os locais de uso atual, ou estes já tiveram acesso a eles.
Por outro lado, pode-se associar seu uso também a culturas economicamente distantes dos centros, já que mesmo tendo acesso, muitos locais adotam o uso por questões financeiras.
Além da predominância da tradição na maior parte dos casos, é interessante observar que todos os usos relativos estão associados a culturas com baixa tecnologia, já que os objetos adaptados a partir da casca da planta já foram aperfeiçoados há muito tempo, em quase todos os locais de uso atual, ou estes já tiveram acesso a eles.
Por outro lado, pode-se associar seu uso também a culturas economicamente distantes dos centros, já que mesmo tendo acesso, muitos locais adotam o uso por questões financeiras.
Em termos musicais, a substituição não se resume apenas a uma questão cultural ou econômica, já que os instrumentos musicais têm uma personalidade ou um timbre característico, e basicamente devido ao material de que são compostos. Portanto, mudar a base de um instrumento feito a partir da cabaça não seria necessariamente uma boa opção, já que os instrumentos artificiais têm quase sempre uma sonoridade inferior aos instrumentos feitos com materiais naturais.
Existe alguma fruta da família da Lagenaria ao qual não foi citada nesses textos e se encontra pelo rio grande do sul?
ResponderExcluirTem a Lagenaria siceraria que é conhecida como porongo ou purunga. Um forte abraço!
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